Gosto não se discute?

Para darmos continuidade aos nossos estudos, voltamos nossas mentes para um novo propósito de pesquisa, sobre o juízo que surge com base nas coisas que se sente e que a principio não se mostram possíveis de serem inteiramente fundamentadas por uma explicação lógica e tentando sair da relatividade de que “gosto não se discute”, um breve relatório das primeiras leituras e discussões do texto “A filosofia do gosto: reflexões sobre a idéia” de Ted Cohen.


A idéia do gosto possui mais de um sentindo, pode sugerir preferências por coisas melhores ou a capacidade de diferenciar entre vários elementos propriedades distintas. Podemos também dizer que o gosto se traduz como uma maquina de julgar o mundo esteticamente. Segundo Hume, o gosto seria a capacidade de sentir prazer e sendo assim aquele que possui um gosto mais delicado, teria então uma maior capacidade satisfação e prazer. Ele também ressalta a idéia de que o gosto seria a faculdade de detectar todos os ingredientes de uma composição. Então se pode dizer que quando alguém tem um gosto mais apurado que o meu, é capaz de reconhecer e sentir prazer de um objeto que me deixa indiferente.


Ao refletimos a respeito do próprio gosto podemos fazer uma comparação, não em relação ao meu gosto com o gosto de outra pessoa, mas no que se refere às mudanças no meu gosto, mudanças que em geral fazem parte da história de todos. E então se perguntar, será que meu gosto apenas mudou ou ele melhorou? E para dizer que o gosto não está apenas diferente do de antes, mas que melhorou (ou piorou) então segundo Hume, devemos supor que exista um “padrão do gosto”, pois só seria possível estabelecer uma compreensão de gosto partindo de um ponto de apoio. Mas afinal o que é padrão? Uma construção mental social? Ou uma propriedade do objeto a ser gostado? O que confere a uma estrutura o status de padrão? Parece-nos correto afirmar que o que confere a uma estrutura o status de padrão é a sua uniformidade, repetição, estabilidade e conformidade no que se refere a concepções de mundo que já se mostram consolidadas na mente de cada sujeito.


E quanto ao gosto, se há realmente um gosto pior, ou melhor, porque devemos querer um gosto melhor? Sabe-se que existem custos no ganho de um gosto melhor, qualquer que seja esse sentido. Será preciso tempo para apurar o gosto, esforço e ainda abrir mão do prazer que se sentia antes com coisas que agora parecem inferiores, para dar lugar ao “novo” e mais agradável. Mas será que essa nova descoberta do prazer que se obteve recompensa aquela que se perdeu? De certo modo podemos dizer que sim, já que com o ganho dessa nova descoberta, podemos detectar maiores qualidades em determinadas coisas, acabamos possuindo um conhecimento maior sobre o objeto experimentado, porém essa avaliação sobre perdas e ganhos em relação ao gosto, parece constituir-se como uma tarefa individual, pois cabe a cada um o estudo detalhado do esforço feito para evoluir o próprio gosto.


Assim, nos parece plausível supor que o gosto esta ligado ao conhecimento, porque afinal não há como gostarmos de algo se não o conhecemos e portanto também não poderíamos saber se aquilo que gostamos é o melhor se não conhecemos os outros gostos. Podemos alimentar o gosto, educar, evoluir, mas será que quanto mais sabemos de algo mais iremos gostar? Porém, mesmo que tenhamos a capacidade de distinguir certas propriedades especificas de algo e reconhecermos que aquilo realmente é o melhor, podemos ser indiferentes e continuar gostando do que se julga ruim? Perguntas como estas podem parecer de início descabidas, mas são fundamentais para entendermos a questão do gosto. Se ter gosto melhor significa reconhecer mais qualidades de um objeto ou sentir mais prazer com coisas que os outros de gosto inferior não sentem, então é possível dizer que é verdade que ter um gosto melhor é realmente o melhor.


E uma última questão que nos surge aqui é se o gosto pode estar ligado ao simbólico. Sabe-se que existem coisas que nos agradam não por serem melhores comparadas a outras, mas porque possuem um valor significativo, que nos fazem reconhecer, lembrar de situações, alguém ou alguma coisa que nos marcou, mas será que reconhecer elementos emocionais no gosto seria o limite do entendimento artístico? Essa questão nos leva  a pensar que o que nos faz gostar de algo, talvez não seja as propriedades do objeto em si ou uma imagem, uma experiência estética que carregamos em nossa memória como, por exemplo, a beleza de um quadro que vimos anos atrás. Nos parece aceitável supor então, que quando gostamos de algo, gostamos pela relação que temos com esse algo, a relação que se dá entre estruturas iguais, uma relação de homem frente ao mundo e vice-versa.

Quem somos

O grupo de estudos "Arte, Sentido & História" é constituido pelo orientador Prof. Dr. em Filosofia Gerson Luís Trombetta; pelos bolsistas: PIBIC/UPF Alessandra Vieira; PIBIC/CNPq Bruna de Oliveira Bortolini; FAPERGS Taciane Sandri Anhaia; e demais integrantes: Aline Bouvié, Amanda Winter, Ana Karoline, Bárbara Araldi Tortato, Daniel Confortin, Edynei Vale, Ester Basso, Fabiana Beltrami, Fernanda Costa, Prof. Dr. em Filosofia Francisco Fianco, Guto Pasini, Iara Kirchner, Jéssica Bernardi, Leonel Castellani, Maikon Ubertti, Marceli Becker, Marciana Zambillo, Roberta del Bene e Tarso Heckler.

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