O Ressurgimento da Estética

Para iniciarmos o ano de 2010 no embalo dos estudos, postarei aqui uma espécie de resumo dos textos trabalhados no ano anterior, para qualquer retomada a ser feita. Começando pelos escritos de Wolfgang Iser, sobre o ressurgimento da estética.


Ao longo de nossas discussões, podemos perceber que após um breve tempo de inúmeras mudanças a estética ressurgiu e mesmo depois de ter sido rebaixada a pura aparência e ser considerada como uma fuga da realidade no século vinte, não perdeu sua proeminência como uma filosofia da arte. Ela sempre esteve conectada ao sujeito, o belo, o sublime, a verdade ou a obra de arte e dessa relação provocando sempre alguma reação, um juízo, uma idéia ou um envolvimento da imaginação. Está ligada a alguma coisa dada, da qual tem necessidade de se mostrar e também de forjar para si próprio o que foi dado. A estética foi qualificada como aparição, visto que não podia ser tantas coisas contraditórias ao mesmo tempo. A aparição envolve o estético ao transformar objetos ou estados em aparência, revelando-se assim que é algo, que dá forma a algo e que para o preceptor em potência se mostra como ilusão de algo que foi forjado.


Porém se o estético é basicamente um elemento que da forma para a transmissão daquilo que se forjou, então não pode mais ser confinado a obra de arte e passa a esteticizar quase tudo o que existe. A operação modeladora do estético propõe um jogo recíproco entre objeto forjado e sujeito que percebe, entre as formas que são impostas ao objeto e os sentidos requisitados do sujeito. Assim podemos nos remeter ao conceito de juízo estético de Kant, quando fala que a operação estética não é a cognição do sujeito de um objeto, mas a presença do objeto para a intuição íntima do sujeito e para que isso ocorra todos os sentidos devem estar envolvidos.


Entretanto, esses moldes usados na operação modeladora do estético acabam extrapolando as formas que são concebidas e imaginadas pelo sujeito, fazendo com que as idéias atraídas sejam descartadas e que se multipliquem as representações imaginadas, sendo assim de um lado uma abstração partindo do processo da percepção humana feita com o objetivo de criar algo e de outro lado um modo funcional que faz com o que o objeto criado rebata contra os sentidos. E essa dualidade põe em movimento um circuito de retroalimentação, ou seja, os sentidos são expostos àquilo que foi retirado deles, o que foi criado pela necessidade de configuração do objeto em função dos sentidos, volta extrapolado e é oferecido novamente aos mesmos. E isso se apresenta como um desempenho da qual todas essas coisas surgem, provocando uma continua estimulação dos sentidos que possibilitam a produção de algo que se possa visualizar e idear, dando a capacidade de ultrapassar até mesmo aquilo que se julgava congelado em uma forma definitiva, ativando o modo de o sujeito olhar o mundo.


Essa ativação é efetuada por todos os sentidos humanos, quase simultaneamente, assim como os objetos extrapolados tiram proveito dos mesmos. Um exemplo disso está nos anúncios publicitários de televisão, onde um objeto é anunciado através da imagem e o espectador não o reconhece apenas como um objeto, mas é induzido a figurar aquilo que se apresenta na imagem. A concepção desse forjamento ao se deixar levar pela imaginação ganha poder e sozinha consegue configurar a intenção a ser comunicada.


Outra variável é aquela que se apresenta como charada, onde há uma lacuna, uma quase certeza que prende a atenção do espectador para o que esta acontecendo na tela. O que podemos ver é a prioridade da embalagem sobre o produto, pois nos parece que só a estrutura esteticamente embalada tem a potência de sedução e ilusão de necessidade. A estética acaba funcionando como um intermediário, modelando aquilo que esta dado, com a intenção de prender os sentidos do individuo. Pode-se então dizer que ao ultrapassar a natureza ou o material dado realça a operação modeladora do estético, como uma exteriorização da imaginação, que por sua vez continua estimulando a mola principal da qual ela foi extrapolada.


Modelar como um ato transformador revela o dado em relacionamento de troca, esse jogo livre da imaginação de mover, suspender, configurar mostra duas feições características do estético, é um movimento que acelera e se espalha. O jogo de modificar as formas de revirar distinções surge como força gerativa que faz com que a operação modeladora descubra varias possibilidades, essa atividade estética cheia de possibilidades ricocheteia no sujeito e o chama para lidar com as mesmas.


Sendo assim, o perceber, o conhecer, sentir e conceber servem como canais para a imaginação chegar até aquilo que esta para ser forjado e o próprio forjamento afeta os
sentidos. Essa atividade de forjar nos permite dar uma estrutura para o material de nosso mundo, sendo o mesmo organizado pelo agrupamento dos sentidos humanos.

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