Danto e o Fim da Arte

Uma das questões que perpassam as nossas discussões sobre arte é centrada na concepção de Danto quanto à postulação do fim da arte. Nesse ponto entendemos que o autor estudado ao observar os diferentes tempos artísticos, principalmente o moderno e o contemporâneo, acrescenta a idéia de que não podemos mais sustentar uma narrativa histórica da arte, pois esta se mostra esgotada.

O fim da arte não representa, de forma alguma, a suspensão do fazer artístico, mas de um padrão conceitual que possa abranger o que é arte, devido à nebulosidade teórica, a ausência de estilo e a “des- objetificação” da arte. Danto acredita que a arte de hoje em dia é pluralista, seus meios e critérios não são fixos para que possamos defini-la e assegurá-la como uma referência solida.

Este problema diz respeito aos impasses da definição, ou mesmo, do “alargamento” da concepção de arte pictórica. A modernidade encarregou-se da supervalorização da forma, do traço, afastando a velha “ilusão” da arte. O artista não se preocupa mais em evitar que sua arte se deixe evidenciar como imitação da natureza. A pintura não carrega mais em si a ilusão de ser outra coisa, além do que ela própria. Já o vale tudo contemporâneo proporcionou a arte grande liberdade estética, rompendo com a antiga narrativa histórica.

Quanto à ausência de estilo, Danto observa a questão de não se fazer mais uma arte espontânea, mas uma arte de mercado; ou mesmo, de retorno aos modelos já estabelecidos, como o surrealismo aos modelos antigo-medieval (não há mais uma originalidade na obra, mas uma “junção” de estilos que já foram feitos). E, por último, aborda o problema do que chamaremos de “des-objetificação” da arte, o qual o processo de racionalização nos permitiu chegar.

Segundo Arthur Danto, a história da arte tenta forjar uma continuidade que não existe. A história da arte, nessa visão, começa depois de 1.400 com a conscientização de que fazemos arte, por lhe atribuirmos uma conceitualização. Antes disso, a arte teria um caráter contextual ou natural (período que tendemos retornar por sua atual falta conceitual).

O período antigo e medieval, representado pelas artes Sacras e religiosas, as quais exerciam sentido prático na vida das pessoas, sustentavam um modelo que garantia uma tranqüilidade na noção do conceito arte. Já o moderno, começa a chamar atenção para o que seja a arte, tornando-a uma arte formalista, inserida numa progressão narrativa. Tal necessidade foi sendo racionalizada aos poucos, onde acabamos afastando o objeto como atração natural para elevá-lo em uma perspectiva teórica. Um exemplo disso pode ser encontrado em Duchamp, onde sua obra, A fonte, representa uma idéia artística com a utilização de um objeto não artístico; o mesmo pode vir a ser um bem comum se tirado de seu contexto de exposição que gerou a noção de sua arte. É baseado nessa perspectiva que o autor afirma a inexistência de um objeto que defina, exemplifique, de maneira a trazer à tona o objeto artístico; mas o que a convenção, a teoria, a explicação postula é o predominante no que nos é apercebido.

3 comentários:

Mar Becker 21 de maio de 2011 às 00:50  

O paradoxal (ok, vou forçar...) é que, se não há mais relações estreitas de semelhanças de família, de parentesco, entre as obras de arte - devido à "nebulosidade teórica, ausência de estilo, desobjetificação da arte" -, então como Danto consegue reuni-los, consegue concebê-los todos como objetos artísticos, a fim de declarar o fim da arte?

Mar Becker 21 de maio de 2011 às 00:52  

Bom... Na verdade, minha pergunta é um pouco desencaminhadora, porque Danto fala do que nós JÁ concebemos como arte. Não faz previsões, coisa que era possível quando havia a tal narrativa histórica da arte.

taci 22 de maio de 2011 às 19:29  

Olá Sra. Ramsay!
Vou tentar responder, correndo o risco de não ter compreendido adequadamente a pergunta, quiçá o autor! (os dois, tanto o Danto quanto o Tarso)
Pois bem, quando tu mencionas a questão de não haver relações estreitas de família nas obras de arte, entendo que é a questão de perceber se dada obra pertence a algum movimento artístico, como o Barroco... (certo?). Porém, a idéia dele parece dizer que a arte estaria, em parte, retornando aos modelos antigos no sentido de fazer uma “mistureba” do que já foi visto. Mas ainda não podemos pensar somente em tal aspecto como modelo síntese de sua abordagem. Outra questão é o “vale tudo” que fugiu da nossa presunção de definir o que vai ser arte ou não; e nisso temos tanto perdas quanto ganhos. A sua tese então me parece ser um apanhado desse mal- estar, cuja solução seria o decreto do fim da arte. O fim da arte não significa que não devamos mais fazer arte ou que a mesma esteja padecendo aos poucos e por isso não valha à pena, mas que não podemos teorizar tudo, enquadrar, manter um controle sobre, assim como vínhamos fazendo. Nessa análise que ele faz dos grandes períodos, credita que não podemos manter uma linha narrativa ou progressista da arte...
Abraços e qualquer coisa me corrija!

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